domingo, 16 de janeiro de 2011

Vontade luminosa

Sinto que tenho como função, o interrogar da realidade, ser crítico, provocativo e refletir sobre o que me rodeia.



"Aquela é uma praça muito movimentada, daquela grande metrópole, pesquisas apontam que por dia passam por ali milhares de pessoas, dos mais diversos naipes, vestidas das mais diversas formas - gravatas, maletas, bolsas, cachecóis, vestidos, langeries, sapatos, etc,etc. Existem várias árvores, arbustos, bancos, lixeiras, no centro uma fonte luminosa, que há tempos está desativada pelo descaso e desatenção das autoridades competentes. Com tantas pessoas que passam por ali, há somente uma que não apenas está ali de passagem, há uma criatura de tem a praça como sua morada, o céu é o seu teto,  tem como testemunha de sua miséria as árvores e os animais que ali residem. Tem a pele negra, não se sabe se é pela raça ou pelo acúmulo de sujeira e a escassez de uma higiene adequada, por isso, cheira mal, exala um odor fédito, tem as mãos repletas de escaras, as unhas enormes, quebradas em alguns pontos, terra em baixo. Os cabelos encabrunhados, amarrado por um saco plástico. Estamos em junho, faz frio, muito frio. Aquela criatura tem hábito nômade, não fixou residência em nenhum ponto da cidade, só elegeu aquela praça como seu local de repouso, nem que seja por um breve tempo. Às vezes, ele sai a caminhar, roda por toda cidade, do centro à periferia, anda no meio da rua, atrapalhando o tráfego, anda pela calçada esporadicamente, infectando o ar com seu cheiro desagradável, algumas pessoas tapam o nariz, franzem o cenho, fazem cara de repugnância. Ele não se importa, ao contrário daquelas pessoas, ele nao se sente incomodado, muito menos insultado, aliás, aquelas madames  sim, elas parecem se insultar com a presença de um ser tão miserável e fedorento, ali, presente no meio da sociedade, infeiando, estragando o bem correr das coisas. Quando a caminhada é demasiada longa, ela para por um instante, tira das costas aquela saco de lixo que lhe serve com mala, para carregar algumas coisas, ninguém sabe o que ele traz lá dentro, é insignificante. Nesse momento ele parou à porta de uma botique, está anoitecendo, faz frio, venta forte, parece o presságio de uma tempestade. A dona da loja vem ao seu encontro. Ei, ei mendigo, saia fora, ande, vá embora, não vê que está espantando minha clientela, ande logo, ou irei chamar a polícia! Ela lhe joga algumas moedas, ele mantem sua postura, esta sentado, olhando fixamente em direção à praça, ele se quer olha pra mulher, se levanta, pega o saco, coloca às costas, e se encaminha em direçao à praça. Uma chuva torrencial desaba sob os traseuntes da praça, muitos correm em direçao aos seus carros, outros cobrem as cabeças, principalmente as mulheres, afinal, o cabelo deu tanto trabalho pra ser arrumado, e uma chuvinha nao irá colocar tudo a perder. Nosso herói caminhada devagar, a chuva é forte, o vento balança as copas das árvores, ele vai olhando pras árvores, imaginando coisas, pensando outras, está sozinho, nem um cão lhe serve como companhia, tanto tempo esculachado por aqueles de sua própria espécie, ele nao quis se aliar a nenhuma outra espécie animal. A chuva começa a cessar, é noite, as luzes começam a ascender, a praça está toda iluminada agora, ainda escorre a enxurrada, ele procura um banco pra se sentar, tem os pés descalços, como tem os pés grossos, dedos grandes, afinal, há muito tempo que ele mora na rua, e nao tem sapatos. Tem fome, nada pra comer, daqui a pouco começara a missa, e sempre tem algum carrinho de pipoca e cachorro-quente, alguns vendedores são de algum modo filantropos, que ama os homens e se ocupa em melhorar-lhes a sorte, e vez ou outra lhe oferece um lanche, aquele homem nao ousa pedirl, apenas se aproxima da barraquinha, e fica olhando as pessoas que se aproximam para comprar, alguns são pais satisfazendo a vontade se seus filhos, quando a vil criatura se aproxima esses pais tratam de pagar logo o vendedor e se afastar daquele ser repugnante, que parece oferecer perigo, afinal, nao se pode confiar em uma pessoa pessimamente festida, com o corpo imundo, e que traz a tira colo um saco de lixo como bagagem. O vendedor tambem com o intuito de afastar o intruso lhe dá um lanche, o homem pega, nada diz, se afasta. Ele vai se sentar em algum banco da praça, coloca o saco ao seu lado, e começa a comer. Uma criança se aproxima, o homem nao ve nenhum adulto por perto, a criança apareceu de repente, ele nem notou por onde ela surgiu, é um menino, ostenta ter uns oito anos, está muito bem vestido, tem roupas novas, as bochechas coradas, parece sadio, repleto vitalidade. O homem está a matar sua fome, o garoto o observa, assim ficam por alguns minutos, um observando o outro, sem nada dizerem, ate que nosso heroi se aborrece. "Ei garoto, cade sua mae?" O garoto nada responde, o homem da mais uma olhada em volta do banco e so ve pessoas ao longe, nenhuma mae ou pai procurando seu filho perdido. Ele engole o ultimo pedaço do pao, e pergunta mais uma vez ao garoto. "O que voce quer? Está perdido? Quer que eu lhe ajude a encotrar sua mae?" A criança apenas olha pra ele, tem um sorriso esboçado nos lábios, a cabeça levemente inclinada, braços entendidos rente ao corpo. Após um longo tempo em silencio contemplativo, o garoto esboça alguma reaçao. "Eu vim de longe, muito longe". O homem se espanta, afinal, ele fala, pensou ele. "Que bom que eu encontrei voce!" balbucia o jovem. "  Nosso mártir esta espantado, curioso e irritado. "Afinal o que quer esse miseravel, por que vem me tirar o sossego, estava tao bem antes dele chegar." O menino se aproxima mais um pouco, pega na mao do homem,  olha fixamente pra mao dele, em seguida fita seus olhos, seu olhar parece hipnotizador, o homem nada consegue falar, parece extasiado. "Eu vim do passado, nao me pergunte como, posso ter vindo na famigerada máquina do tempo, num foguete intergalaxico, ou ser simplesmente fruto da sua imaginaçao, um delirio, uma alucinaçao da sua debilitada mente, posso ser fruto de seu desarranjo de ideias, nao importa, o que interessa é o que tenho pra lhe dizer."

Continua...

Por Fabio Silva

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