sábado, 30 de outubro de 2010

O triste fim de Policárpio Quaresma


Me disseram certa vez que é impossível medir a dor, o quão uma pessoa é infeliz, o quanto ela pode suportar um sofrimento sem sucumbir a ele. Não dá. Não dá. Nunca vi tanto sangue na minha vida, espalhado por todo o quarto, pelas paredes, pelo teto, disseram que o um tiro de 12 fazia muito estrago, eu nunca tinha imaginado o quanto. Era domingo, como sempre, tediosos e infernais domingos. Desde sempre, era a mesma história, os mesmos fatos, os mesmos acontecimentos, mas naquele domingo foi diferente, ele não quis mais essa merda toda, preferiu dizer NÃO, BASTA, JÁ NÃO QUERO MAIS. Disseram-me que foi loucura, excesso de idéias na cabeça, mente fraca dirão outros, mas só ele sabia e conhecia as lágrimas que estremeciam sua alma. Afinal quem mais conhecia os motivos pelo qual sua mão trêmula e úmida titubeavam diante de tantos fatos, tantos fatos banais ele evitava, se atrapalhava, enfim, motivos ele tinha vários. Eu fui a primeira pessoa a ver a cena, no seu último momento ele coloco o cano da arma na sua frente, e em seguida aperto o gatilho. Não estava bêbado, ou sob efeito de qualquer outro tipo de droga, plenamente lúcido e sóbrio, somente a dor extravasava seu limite suportável, era muita, sem sentido, sem porquê, todo dia, toda hora, sem namorada, sem amigos, nem por livros ele se interessava ultimamente, aqueles mesmos livros e autores que evitaram que ele desse cabo da vida anos antes. Se me perguntarem, direi que ele não suportou ver a progressiva decadência de seu herói. Eu minto, me perdoem, ele tinha sim uma namorada, linda por sinal, meiga, gentil, simpática, adorável, que dedicava muito amor a ele, o essencial de que um homem precisa pra suportar o peso da existência. Também tinha amigos, colegas, parceiros, ele de fato se sentia só as vezes, mas tinha companhias diversas. Em casa tinha boa comida, boas roupas, eletrodomésticos, luxo. Mas mesmo assim ele fez aquilo. Eu convivi toda minha vida com ele, afinal eu era o irmão mais novo, ele viera primeiro a esse “mundo de merda”, como ele mesmo dizia. Eu nunca suspeitei que ele viesse a ter a ousadia de tirar sua própria vida. Sempre foi tão pacato, sempre passivo, levava desaforo pra casa, se um cachorro latisse pra ele na rua, mudava de calçada, na escola agüentava a chacota do colegas e nada fazia, nada falava, não se defendia. Eu não o acho um covarde, pelo contrário, tem quer ser muito corajoso pra comprar sua passagem pro inferno, aliás, passagem só de ida. Certa vez vi uma frase no seu caderno de anotações, era de um filósofo alemão, dizia mais ou menos assim; “ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa, mas também não temos o direito de tirar essa liberdade da própria pessoa de decidir sobre a hora de sua morte”. Creio que ele teria um futuro brilhante pela frente, era estudioso, se ocupava com assuntos relevantes, estava na faculdade, ganhara do governo uma bolsa de estudo, iria se formar em 1 ano. Creio também que ele se recusou a ver a decadência daquele que tanto admirava, tanto amava, aquele que era um herói, fonte de identificação, modelo. Por esse lado eu penso que ele foi fraco, sim, foi fraco, se eu pudesse dizer algo pra ele, diria que nem tudo que nos acomete foi escolha ou procura nossa, tantos as dádivas quanto as desgraças. Se você procurar bem, verá que as coisas melhores e piores que aconteceram com você, não teve qualquer relação direta com seu maiores esforços, foram fatos que simplesmente aconteciam e que exigia da gente trabalho e uma posição diante dos fatos, somente isso, por mais doloroso e custoso que era aquilo.
Chega de baboseira, agora é tarde, seu tempo aqui se esgotou, ele mesmo deu cabo do seu relógio de vida, com um tiro, na cabeça, certeiro, já estará agora prestando contas a lúcifer. Que sua história lhe eternize meu irmão. Todo homem é finito por sua natureza, mas por suas idéias e feitos, ele pode se tornar imortal.
Até breve mano.
Abraço.

Por Fabio Silva

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O sangue é negro

Ei, muito fácil é dissertar sobre a angústia, principalmente quando se está sob o efeito dela. Fácil escrever palavras que exprimem dor, melancolia, pessimismo, baixo-astral. Fácil falar sobre o que ta ruim, sobre o que não presta, sobre o podre, o sórdido, e o feio. Quem nos governa não presta, quem deve nos proteger de nós mesmos são corruptos, que nos educa faz com péssima vontade, está tudo tão caro, os jovens já não respeitam os mais velhos, os mais velhos já perderam as esperanças na vida, há milhares de pessoas no mundo vivendo abaixo da linha da probreza ( o que é essa tal linha???), mulheres são agredidas, violentadas, torturadas, esquartejadas, e no final viram lanchinho dos cães, a filha vai voar pela janela do quinto andar logo, logo, muita guerra por um pouco de paz...
Sabe o que é muito raro de se ouvir falar, de se ler, de se escutar??? Algum palpite???Bem, dificil mesmo é falar que além da dor, da melancolia, e da angústia, existe momentos, pequenos fragmentos de pura felicidade, eu disse bem, PEQUENOS fragmentos, pois a felicidade em seu estado puro é como ouro em uma mina, existe pouquíssima quantidade verdadeira num imenso mar de areia infértil e estéril, e dá trabalho encontrar a tal felicidade, e quando você se descobre feliz, se dá conta que nem fez muito esforço pra alcança-la.Ainda mais difícil e raro de se encontrar por ai, é ver alguma alma boa que escreve sobre fragmentos de felicidade sem se tornar fútil, piegas, trivial, infidedigno. Tarefa árdua de escrever sobre felicidade sem ser em livros que pregam: "sua felicidade só depende de você!" ou, "compre uma bolsa, um celular novo, um carro importado, uma casa na praia e você será amaldiçoado com uma felicidade eterna e constante pelo resto de seus dias!", arghhh, que vontade de vomintar, vomitar em cima desse livros malditos, que vendem a pseudo receita da felicidade. Quer saber de uma coisa meu caro, felicidade não tem receita, assim como não nascemos com manual de instrução. A vida é uma só, não tem outra não, e não ache que estou sendo repetitivo dizendo isto, muitas pessoas, mas muitas mesmo, não sabem que a vida é uma vez só. Você deve estar se perguntando: Poxa autor, deixa de ser carrancudo e rabugento e dá um desconto pra estas pessoas, afinal elas estão muitíssimas ocupadas se matando de trabalhar pra pagarem suas dívidas eternas nas lojas de crediário a se perder de vista, 12,18,24,36,48 meses, vixii, se manteram por muito tempo ocupadas trabalhando e pagando contas, nesse eterno círculo vicioso. Não culpo essas pessoas pela atual condiçao delas, no fim das contas elas são forçadas pelo nosso sistema capitalista, o velho par de opotos, a tal da oferta e procura. Tudo bem, trabalhem e cosumam os produtos e mercadorias, mas levar embutido alienação e ignorância, isso já é demais.
Vosso autor poderia aqui repetir aquelas velhas máximas que ele sabe que vão agradar, coisas do tipo: "a felicidade é como uma borboleta a procura de um jardim bem florido, não se deve correr atrás delas, mas deixar seu jardim bem bonito para que elas possam vir espontaneamnte!", não, eu não concordo com tudo isso, afinal a realidade não tem muito a ver com essas metáforas que só servem para maquear a realidade. Tudo isso pra dizer uma coisa: o paraíso é logo ali, e o inferno também, um guerreiro de verdade está tao bem preparado para um quanto para o outro. Ei, uma última coisinha, que pode parecer conselho de livro de auto-ajuda, mas que somente tem a pretensao de ser útil de alguma forma: quando estiver no paraíso, lembre-se de suas várias estadias no inferno, e o contrário também é muito válido, ao visitar seus demônios no inferno, lembre-se muito bem das suas viagens ao paraíso, isso te dará forças para romper qualquer barreira feita por aqueles malditos. E tenho dito. FODA-SE. Até a próxima.
Por Fabio Silva.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Confissão


Confissões de Um Terapeuta
Vânia Crelier

 Eu, terapeuta, confesso.
(entre três paredes e uma janela de verde)
que ando cheia de perguntas
sem respostas.

 Eu, terapeuta, confesso.
que as vezes fico cansada
quero apenas deitar ao sol
ou namorar a lua.

Mas, as vezes, estou aberta
À procura de quem venha.

Que venham então os infelizes
os chorosos, os perdidos. Ou aqueles desencontrados
(com certa vontade de se encontrar ).

Que me procure os “sadios”.
(cuja a vida  se esvai entre os dedos).
Ou aqueles carregados de doenças
(que nem sabem que provocam).

Que me procurem os loucos
(mas antes digam:
que é loucura?..
que muitas vezes não sei!).

 Eu, terapeuta, confesso.
Que foi vivendo a loucura,
Entre os gritos de desespero
que descobri a vida.

Que me procurem os fingidos
que brincam de nunca ser ....
Ou aqueles que querem ser ......
E não podem.

Eu, terapeuta, confesso.
Que me vejo artista,
pinto quadros de alma
(inclusive  a minha).

Eu, terapeuta, confesso.
Que cometi pecados...
Tantos.
E foi pecando tanto
que aprendi.

Eu, terapeuta, confesso.
Que gostaria de ter
sua receita de vida,
quando você chegasse.

TUDO PRONTO!

Mas, confesso que não tenho.
Nunca acerto na medida,
por mais que olhe a cozinheira 
só aprendo ...
fazendo.

Eu, terapeuta, confesso,
que não sei o que é loucura 
( se escapei de ser internada, foi sorte!).

Por isso,
você que é louco
(ou lhe dizem, ou você acha ...)
cuidado!
Estar louco pode estar sendo
sua única possibilidade
de estar vivo!

Ou você que esta certo
de que tudo anda nos eixos,
tua vida nos trilhos certos,
cuidado!
Você pode estar morto
e nem sabe! 

Referência Bibliográfica : http://www.psicoexistencial.com.br/web/detalhes.asp?cod_menu=107&cod_tbl_texto=2106

domingo, 10 de outubro de 2010

Uma dose de poesia por favor! [3]

 Singela homenagem a minha amiga cearense, que transborda emoção e sentimento nesse poema. Sabe quando você tem certeza que uma coisa é realmente boa? É quando você fica com aquela sensação de que queria ter feito aquilo mas não pensou nisso antes. Foi assim que me senti ao ler esse poema, fiquei emocionado e com a sensação mesquinha e egoísta de ter escrito o poema. Portanto, voltando a realidade, como disse a pouco, o poema é de autoria de Dábylla Gomes, minha (sem adjetivos para lhe contemplar), espero que gostem!
P.S. Depois vc deposita o combinado na minha conta, ok??? Hahahahhahahahahah
 
Sinto ciúmes de tudo que te cerca...
Dábylla Gomes

Do vento que em teus cabelos toca
Da roupa que cobre tua pele
Do calçado que protege teus pés
Do aroma que perfuma teu corpo
Da água que mata tua sede
Do olhar que nao diriges a mim...


Das pessoas que te rodeiam
Do amigo que tu abraças
Dos lábios que te beijam
Da mão que te afaga
Do passado que me escondes
Do futuro que me excluis...
Dos teus pensamentos (que não estão em mim)
Do ar que tu respiras...
DE TUDO!


Te quero só minha. MINHA!
Te quero nua
(Despido das impurezas do mundo)
Quero ser teu dono e teu escravo...
Quero te por numa redoma
Admirada por todos...
Possuída por mim!

sábado, 9 de outubro de 2010

Overdose de risos, não se engane, não é felicidade.

Só os forte conseguem rir de suas próprias desgraças, e não se engane,eles não são e nem estão bancando de idiota ou esquizofrênico, é nessas horas que aquela frase faz muito sentido: "A vida é uma tragédia pra quem sente e uma comédia pra quem pensa". Se eu soubesse o autor da célebre frase eu daria os créditos a ele, como não sei, vai ficar por isso mesmo. O sujeito que a toda desgraça que lhe acomete ficar sentindo todas as dores em carne viva, sucumbirá rapidamente, se enfraquecerá, e muito em breve estará aniquilado, não pelos males da vida, mas por obra dele mesmo. Ao invés dessa atitude patética e medíocre, o sujeito procurar ver as coisas por outro ângulo, ou seja, conseguir ver humor e ironia no destino que lhe assola, ele verá que a vida é uma puta num bordel dançando num poste, pra caras bêbados-casados-perdidos-alienados, ou seja, não tem sentido nenhum, a não ser o sentido que damos a ela. Tenha em mente, todas as pessoas que amamos vai nos magoar algum dia, mais cedo ou mais tarde, talvez mais severamente ou mais levemente, mas isso ocorrerá. Não existe perfeiçao nessa vida, os homens se corrompem, se vendem a preço miseráveis, jogam a mulher de seus filhos pros cães, e seus filhos pela janela do oitavo andar, sem remorso, sem culpa, sem consciência "pesada", nada disso, e os velhinhos que assistem ao noticiário nacional, espantados se perguntam como um ser humano é capaz de tais atrocidades. A noite, eles velhinhos oram para o seu deus, que ele "de jeito" nesses homens, que ele mesmo criou, para amarem e serem amados. Hahahahahahahhahahahahah, hhuhuhuhuhuhuhuhu,hoohohohohoho, aia aii, me falta fôlego pra rir diante de tanta hipocrisia, mediocridade, corrupçao, enfim, o normal do ser humano é isso mesmo, trair, matar, roubar, maltratar, e quando os velhinhos se perguntarem o que está acontecendo com a humanidade, responderei a eles: A humanidade é essa mesma meu caros, essa mesma que lhe arregalam os olhos, não há nada de anormal nessas atitudes pois, as regras, normas, leis, tudo isso só serve pra atenuar, reprimir nossos impulsos mais cruéis. Até que um dia tudo isso vem à tona, e nos temos que nos haver com isso. Abraço e até a proxima
Por Fabio Silva.

domingo, 3 de outubro de 2010

Dedidê II

Sentado ao chão do seu quarto desarrumado, livros por sobre a cama, algumas canetas e papéis ao chão. É uma tarde de domingo, a primavera ainda é uma criança, ele pode sentir o cheiro das flores dos cafezais que sinalizam que no próximo ano a colheita será produtiva e não faltará trabalho pros homens daquela cidade. O garoto tenta se concentrar na leitura daquele texto que foi escrito há mais de cem anos atrás, tenta captar a mensagem que aquelas palavras trazem, ouvir o que tais palavras tem a dizer sobre elas mesmas. Porta fechada, janela aberta, sua mente vagueia pra muito longe dali, já não está mais em seu mísero quarto, já transcendeu as paredes e rompeu os limites do tempo e do espaço. Sua mente passei por lugares escuros, concebe possibilidades, considera possíveis ideias, tenta decifrir códigos, palavras e se sobrar energia decifrar seus próprios sentimentos, pra talvez um dia fazer isso em benefício de outrem. O garoto pensa, e isso é melhor do que nada. Enquanto outros são programados pela programaçao alienadora da televisão aberta, ele se dedica a ler sobre personagens do século passado, dos quais sua história de vida e idéias muito tem a ver com suas próprias. Meu caro, existir lhe custa muito esforço racional, lhe custa muita energia, malhando a ferro em brasa, não cessa um instante, mesmo dormindo ele vagueia, nao sabe muito bem por onde, mas vagueia. Faz isso na tentativa de encontrar algum semelhante, alguma alma que sangre da mesma forma que ele. Sente dor, sente desespero, angústia, raiva e frustração, tudo junto, ao mesmo tempo, em doses magistrais. Demônios, velhos demônios sempre voltam a lhe assombrar, sussurrando ao seu ouvido coisas miseráveis. O paraíso é logo ali, o inferno também. Eu falo daquele ao qual os demônios nunca largaram, mas que no fim verá que deve muito a eles. Um ronco estranho, ah, é o estômago reclamando por comida e o corpo por energia, afinal, pensar lhe custa muita energia, muita. O garoto se levanta, organiza os livros e os papéis, vai ate a cozinha e apanha algo pra cessar sua fome, mas há uma coisa que parece nao cessar nunca - pensar - isso sim nao cessa nunca, nunca.
Por Fabio Silva.

Jobim


Wave

Composição: Tom Jobim 

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...
Vou te contar...